Desaceleração da economia, não é bom, mas não é ruim
A economia está desacelerando nos últimos meses, conforme admite o
próprio governo, que tem baixado várias medidas para impulsionar o
crescimento. Até o fim do ano passado ainda havia uma expectativa de que
o crescimento do País em 2012 superasse o índice de 2011, que, por
sinal, foi bem mais modesto do que se esperava (2,7% contra os 7,5% de
2010).
Nesse cenário, é natural que muitas empresas revejam seus planos de
investimentos e ajam com maior cautela até que a conjuntura melhore. Com
o adiamento de novos projetos, organizações também protelam
contratações que estavam previstas no planejamento para esse ano. Há
casos, por exemplo, de empresas que postergaram a inauguração de novas
unidades industriais para 2013 e até 2014, o que adia também a expansão
de seu capital humano.
No entanto, muitos segmentos da economia já enfrentavam há muito a
escassez de mão de obra qualificada, e essa demanda, felizmente, ainda
não sofreu um golpe forte como seria de se esperar em épocas de queda
nos investimentos. Algumas indústrias, principalmente aquelas que
enfrentam maior concorrência internacional, já ensaiam demissões, mas o
nível de desemprego no Brasil continua em patamares baixos.
Trata-se, certamente, de um paradoxo. Alguns especialistas admitem que a
economia pode permanecer este ano em banho-maria, sem afetar
profundamente a questão do emprego. A menos, é claro, que a China
continue a reduzir o ritmo de crescimento e a situação da Europa se
complique ainda mais, o que poderá agravar a desaceleração da economia
brasileira.
Por incrível que possa parecer, há empresas que continuam contratando.
Muitos setores continuarão crescendo, como o varejo, petróleo e gás,
turismo, indústrias de eventos e entretenimento, apesar da redução do
ritmo de investimentos, pois ainda sofrem com a falta de profissionais
qualificados e executivos. Outros setores, beneficiados por redução de
impostos, cresceram no primeiro semestre deste ano, como é caso dos
fabricantes de linha branca e de móveis.
O segundo semestre ainda é uma incógnita. Geralmente, a economia tende a
crescer mais nesse período. Além disso, alguns especialistas acreditam
que as medidas anticíclicas tomadas pelo governo desde o início do ano
comecem a produzir melhores efeitos nos próximos anos. A queda dos juros
também poderá ajudar a aquecer as vendas.
Assim, o ritmo de contratações poderá ficar nos patamares atuais, numa
visão mais otimista. Ou seja: em termos de oportunidades de emprego,
2012 provavelmente não será um ano muito bom, mas também não será
nenhuma tragédia.
A imprensa tem noticiado que, devido à desaceleração da economia, o
Brasil perdeu um pouco da confiança e do entusiasmo com que era visto no
exterior. Mas isso não impede que o País ainda seja percebido como um
mar de oportunidades para muitos profissionais e executivos
estrangeiros. Afinal, o Brasil parece mesmo um paraíso diante de nações
europeias que estão às voltas com altas taxas de desemprego e com a
economia em frangalhos.
Marcelo Mariaca é presidente do conselho de sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School.